sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Palavras


— Foi uma história engraçada, a do seu pai. – Ele disse, distraído.
Sorri.
— Dava até notícia de jornal.
Ele sorriu.
— Jornal The Family.
Desconcentrei-me de meus pensamentos abstratos por uns instantes. Tudo era quente, o ar denso e perdido. Mas é claro..., pensei. Um jornal! E naquela tarde nasceu a minha primeira crônica jornalística, divulgada no mês seguinte para a família Juliani – em troca de uma contribuição simbólica de cinqüenta centavos para os gastos administrativos.

Publicamos o jornal por três anos ininterruptos, todo primeiro domingo de cada mês, até que um dia veio o marasmo e o afastamento, a desintegração total de um sonho infantil, e tudo ficou perdido em algum lugar de nossas vidas. Tudo... exceto a esperança. Éramos jovens sonhadores. Ele, principalmente.

Marco sonhava alto, fazia planos grandiosos. Foi ele, há muitos anos, numa áspera manhã de sábado, que disse o tal conselho que me salvou do destino dos desesperançados: “Você tem talento, Juan; muito talento! Não deixe as pessoas te ofenderem, não ligue para a indiferença e o preconceito... vença tudo isso e dedique-se a única coisa que realmente importa: a felicidade.” E então ele me pediu pra escrever e nunca parar. Nunca desistir. Segundo ele, esse era o meu destino: encantar as pessoas com as palavras.

E as palavras grudaram em mim, como um vírus contagioso que eu era obrigado a transmitir. Um vírus que não mata, apenas salva. Uma luz que brota no final de todos os túneis e reina, mágica, espalhando-se nas almas das pessoas e fazendo com que suas esperanças não morram, com que suas vidas tenham algum sentido. Foram as palavras que me salvaram da solidão, que serviram de ponte entre aquele jovenzinho tímido e o mundo real. Escrever me tornou mais esperançoso e, acima de tudo, capaz de lutar pelos meus sonhos.

Hoje, Marco Antonio Juliani não está mais aqui. Mas ele não morreu, porque nunca deixou de sonhar. Ele não permitiu que as pessoas o tratassem com indiferença, não deixou que o mundo o humilhasse: sua esperança era uma estrela grandiosa, brilhante e sempre viva, que tocava cada mortal e enchia até a alma mais atormentada com uma alegria límpida.

Esse mundo não é mais dele. Sua estrela foi brilhar em outras terras, em outros mundos. Aqui ficamos nós, com saudade, perdidos em nossas esperanças que aos poucos são sufocadas pela indiferença e o egoísmo. Alguns até aguardam, apegando-se nas suas ilusões cômodas, pelo momento em que se unirão ao meu primo Marco e tantos outros, em uma terra onde as esperanças não morrem nunca.

Uma terra onde o contato suave das águas do mar molha nossos pés e a paz das gaivotas ilumina o azul eterno das tardes de domingo. A terra onde todos os homens são iguais, caminhando pela mesma verde grama e se alimentando do mesmo divino amor que um dia fez as trevas se dissiparem e o mundo nascer na imensidão estrelada do Universo.

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