sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um minuto

Não há quem esteja livre da mão do acaso, tampouco consiga romper a cadeia de fatos que define quem vive e quem morre, quem ama e quem mata, a vítima e a caça. Um minuto: esse único fragmento de tempo se entrelaça em inúmeros outros minutos, em inúmeras outras realidades, seguindo uma seqüência lógica na qual há um único ponto de origem: você.


Talvez se você não tivesse comprado um jornal de quinta-feira naquela manhã, o jovem atrás de você na fila não teria saído da revistaria naquele exato instante. Não teria cruzado a esquina seguinte, não teria sido novamente parado na faixa para que os carros passassem – porque há exatos trinta segundos o sinal estava fechado. O jovem não teria perdido o ônibus que saía exatamente naquele instante.

O seu mísero minuto na fila atrasou em vinte minutos o destino do jovem. O outro minuto, da outra pessoa, no próximo ponto; o outro minuto, do carro parado, no meio da avenida; o outro minuto, do sinal seguinte – tudo, absolutamente, jamais existiria.

Mais um minuto. O minuto que a mulher do motoqueiro demorou em lhe entregar o documento que havia esquecido. O minuto que o ônibus parou no penúltimo ponto, antes do destino final do jovem. O exato e precioso minuto que fez com que um bombeiro resolvesse entrar em seu carro e cortar o asfalto no exato instante em que o fez.

Um minuto... e o ônibus não teria parado no ponto. E o jovem não teria descido, distraído. E a moto não estaria vindo. E o carro de bombeiros não se aproximaria. Um minuto e o jovem não seria atropelado, e a moto não cairia na vala, e o bombeiro não teria chegado na hora. Um minuto e as sirenes estridentes se emudeceriam, e tudo voltaria acelerado em alta velocidade, como um filme voltando para trás, tudo deixando de acontecer: a imensa cadeia de fatos desencadeando outros destinos, completamente diferentes.

Se você não tivesse parado por um minuto para assinar o recibo de seu cartão de crédito, ao comprar um jornal, um jovem de vinte anos não teria sido atropelado. Mas e aí... como seria? Dezenas de vidas seguiriam cursos distintos, nada seria como realmente foi.

Mas e o jovem atropelado? Se você não tivesse parado naquela manhã, para comprar o jornal no qual esse jovem é cronista toda a segunda semana de cada mês, hoje você não estaria lendo essa crônica, porque o mesmo jovem não a teria escrito.

Em meio a tantos minutos que se cruzam, a tantas histórias que se mesclam, a tantos fatos que se rompem numa tênue linha do acaso, só há uma certeza: Não se preocupe com o que teria acontecido se aquele minuto não tivesse existido. Preocupe-se unicamente com o que você faz com cada precioso e único minuto da sua vida. No fim, é só isso que importa. Um minuto.