sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Amêndoas de maio

Porque os aromas são mais doces neste maio de alvo véu, falarei sobre o amor. Não o amor voluptuoso de minhas noites ciganas, tampouco a paixão ardente que transpira em meus contos. Não falarei do amor de homem, mas daquele que suavemente clama no fundo de nossas almas eternamente incompletas: o de filho.

Filho, sim, com muito orgulho, da dona Maria das Graças, tão doce, carinhosa e viva. Mas, acima de tudo, filho desta mãe enérgica, multifacetada, confusa, amorosa: A Língua Portuguesa. Quem mais poderia tão docemente amar sem exclusão? E que outro coração poderia ser tão nobre, puro, precioso, a nos deliciar com seus encantos tão sutis?

Sim... Axé, mainha! Abanheém. Jacamim eterno. Que face possui? Todas. Únicas. Vivas. Como pode acolher tanta gente, tanto filho, tanto amor em um único ventre? É ventre fértil, acolhedor, gigantesco. Oh! Como a amo! Dilacero-me em vis impropérios de falante inculto. Pobre de mim, filho de uma mãe tão graciosa. Logo eu, tão simplório, curumim, moleque, guri, pirralho, bambino, piá, virgenzinho das letras.

O caçula? Talvez por isso o mais querido, o seleto, o mais amado? Não, não! A Grande Mãe não exclui, não dá mimos excessivos, ama a todos com igualdade. Por mais puristas que sejam uns filhos, mais 'simpres sejam ozotro', todo mundo divide o mesmo belo e incomensurável amor. Todos – que lindo! - somos irmãos que compartilharam o mesmo ventre, o mesmo seio, e se ramificaram nessa imensidão bela que tornou a Grande Mãe tão colorida, heterogênea.

E é por isso que, neste “mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus”*, faço esta pequena homenagem às mães, às marias, às terezinhas, às janaynas, às naturezas, ao universo nunca escasso do amor.

Amor, love, amour, liebe, amore. Com estrangeirismos sim, por que não? O importante é amar. E por isso jamais deixarei de mostrar o quanto a amo, como sei que jamais minha mãe desapontará seus filhos - todos grandiosamente diferentes, mas que no fim se encontram entrelaçados por uma mesma face: a de humanos, tão imperfeitamente perfeitos quanto a mãe.

E como um último e carinhoso gesto, uma humilde declaração de amor, retorno ao ventre materno. Sinto novamente o calor do útero alimentando-me as esperanças e o mundo imenso e desconhecido do futuro aguardando-me com sua tão monstruosa face.

Permito-me ao singelo gesto de permanecer na vaguidão do amor e aspirar o ar doce de maios antigos. Ao Lácio, ventre, útero! À mãe de tudo aquilo que fui, sou e serei! À semente que tão belamente frutificou, cresceu e nunca morrerá nessas terras de almas eternamente esperançosas! Sim, a você, nobre mãe, que tão belamente inebria este ignaro poeta. A você: Amor amore compensatur.

(*) Citação: Clarice Lispector

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