sexta-feira, 3 de outubro de 2008

As flores



A orquídea ainda estava lá, silenciosa, branca e submissa. Era possível ouvir o vazio dos amores contrariados que insistia em ressoar sobre suas pétalas. A calidez da tarde sumia aos poucos, cedendo lugar a um rubro espetáculo de vida: o pôr-do-sol da cidade. Tudo tão breve, triste, dissolvendo-se belamente ao contato com o mundo dos homens. Não havia qualquer explicação lógica: era o amor. Simples, puro e solitário.

A moça, embora renascida nas palavras e ressuscitada no amor, insistia covardemente em arrancar o sopro das rosas de julho, excluir-se por completo do convívio com os homens, mergulhar na imensidão árdua da desilusão. Eu não a culparia, afinal, nem sempre há como compreender as faces absurdas desse sentimento louco ao qual ousamos, humildemente, nos submeter.

Mas por que amar é tão complicado? Simplesmente, porque o amor é uma troca de vidas, um eterno e constante dividir, um contato alma a alma. Ele ricocheteia nas pilastras duras do desentendimento e da solidão e rompe, dilacerante, as orquídeas dos corações mais amargos – convertendo-as em belas, suaves e rubras rosas.

Amar não é simples, porque viver é o maior mistério da humanidade. O amor nos transforma em seres mais fracos, susceptíveis a erros, e isso faz com que queiramos fugir desesperadamente de suas artimanhas. Quando amamos, esquecemos o mundo lógico e racional, esquecemos o trabalho, o dia-a-dia nefasto que só presta para estragar a vida, só pensamos nas rosas. E quando descobrimos que as rosas virarão orquídeas a qualquer momento, culpamos o amor. O problema não é amar, mas saber como fazê-lo. O sofrimento do homem não está na paixão, mas em sua imaturidade perante a divinal e incompreensível face desse sentimento.

Meu recado é para você, moça das flores: a renascida. Não deixe que o mundo seque suas esperanças, tampouco que o cansaço intermitente do cotidiano faça com que as pétalas de suas rosas se esvaiam pela brisa de julho. Não deixe que o amor seja vencido pelos sentimentos profanos que corrompem a alma. Pense na sua vida. Pense nas suas rosas.

E ao leitor, que talvez caia nas artimanhas da desilusão, eis o conselho de um simplório poeta que há muito não conhece o amor: As rosas estão aí, vermelhas, amarelas, brancas, em um espetáculo de pureza e vida. E a orquídea está lá, branca, seca, murcha, largada em um canto qualquer, fria e quase-morta. A escolha é sua: Rosa ou orquídea?

Nenhum comentário: