sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Putas tristes e leitores desamparados


Sábado passado, pus-me a vagar como um fantasma sem rumo por entre as prateleiras recheadas da livraria Cordis. Por lá fiquei durante longos minutos, viajando em terras mágicas e provavelmente inóspitas. No entanto, nem tudo são flores nessa jornada louca de inebriação literária.

Cada vez que entro numa livraria, seja aqui nessa cidadezinha de poetas esquecidos ou nas barulhentas metrópoles do nosso país, me surpreendo com a ausência de um nome que revolucionou a literatura mundial, o criador da mais bela das perfeições literárias e ganhador do Prêmio Nobel por sua incomparável obra.

È de se lamentar profundamente que os leitores colatinenses, como tantos outros espalhados por esse país de analfabetos, não saibam o que é caminhar pelas ruas secas e quentes de Macondo. Não conheçam o Coronel Aureliano, aquele homem fantástico, que perdeu trinta e duas revoluções armadas, teve dezessete filhos mortos numa única noite e sobreviveu a um envenenamento - para morrer embaixo de uma árvore, velho e esclerosado, devorado pela decadência e o esquecimento.

Não existe quem não se emocione com a história do afogado Estevão, ou se divirta com os episódios incríveis que levaram a família Buéndia à perdição. Que choque foi presenciar aquele bebê sendo devorado por formigas! Que paixão sublime aquela que arrebatou a marquesinha dos cabelos de vinte metros! Que amor puro o do velho pela virgem que deveria ser prostituta! É esse o universo de García Márquez, o diamante raro da literatura colombiana. Tão raro que sumiu das prateleiras de nossas livrarias e até mesmo bibliotecas.

Enquanto autores contemporâneos, como Dan Brown, Nora Roberts e os nacionais Paulo Coelho e Bruna Surfistinha, se popularizam cada vez mais e multiplicam a venda de seus exemplares aos milhões - mais pela polêmica de seus temas do que pela qualidade das obras – nomes imortais como o de García Márquez são assassinados brutalmente pelo esquecimento e a indiferença, tanto das editoras e livrarias, quanto dos leitores.

Àqueles que desejarem conhecer o Oásis Perdido de Márquez, sugiro que visitem a Biblioteca Municipal, onde encontrarão títulos maravilhosos como “Cândida Erêndira”, “Do amor e outros demônios” e “O enterro do diabo”. Na livraria Cordis, pude encontrar “Memórias de minhas putas tristes”. No entanto, o único local onde obtive acesso a sua obra prima, “Cem anos de solidão”, foi na Biblioteca da FUNCAB. Já “Amor nos tempos do cólera”, recém adaptado para o cinema, não encontrei em canto algum de Colatina.

Humildemente, peço aos proprietários das livrarias colatinenses que olhem com mais amor para os livros de Gabo – o recado é o mesmo para os leitores. A obra de Márquez é saborosa e rica, repleta de um magnetismo especial. Não lê-la é perder uma oportunidade rara de navegar por um universo onde a magia é inebriante e inesgotável.

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